Sorvetinho no Ceará
Foi lá em Fortaleza. Dou referência completa pra quem quiser, pra ninguém dizer que tou mentindo.
Voltando pro hotel naquele calorão desnecessário, resolvo parar pra comprar um sorvete. Encosto no quiosque:
- Moço!
O senhor com mais de 60 continua de olho na tevê, sem mexer um músculo sequer.
- Senhor! - tento ser mais exato dessa vez, pra não restar dúvidas de que era com ele mesmo que eu tava falando.
Nada. Olhos grudados no noticiário local.
Meto a mão no bolso e conto as moedas, já que estava sem carteira. Será que consigo comprar pelo menos um picolé de fruta? - pensei.
- Senhor, tem algum picolé de setenta centavos?
- Não. - Respondeu sem tirar os olhos da apresentadora.
Fiquei parado sem saber o que fazer. Meti as moedas no bolso e já ia desistindo do picolé, me sentindo encolhido. Mas como tem horas que sou chegado numa sacanagem, resolvi ficar parado assistindo tevê junto com ele pra ver até onde ele agüentava ficar sem se mexer. Apoiei os cotovelos sobre o balcão e fiquei.
Aí chega uma mulher e pede:
- Me dá um picolé tal. - E paga com cinqüenta centavos.
Não contive a curiosidade:
- Ué, mas o senhor não disse agorinha ainda que não tinha picolé de setenta centavos?
- E não tem mesmo. Tem de cinqüenta centavos e tem de um real, mas de setenta centavos não tem, não.
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