31.1.05

Rio Grande do Norte

Mirante dos Golfinhos

Paisagens tão bonitas que quase machucavam minhas retinas.

Oficina

Em algum lugar do nordeste brasileiro

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Perdido no horário

Outro dia vivi o dia mais longo da minha vida.

Quem é do nordeste vai rir de mim, mas não estou acostumado a esse fenômeno esquisitíssimo. No verão, o sol nasce às quatro e meia da madrugada e some às cinco e meia da tarde. Ou seja, o dia começa cedo demais, e quando a noite cai e você acha que vai dormir, olha no relógio e percebe que ainda são nove da noite.

Sinistro.

Pra piorar, lá não rola o horário de verão. Aqui a gente tá acostumado a ainda ter luz do sol às oito da noite, então imagina a confusão que é você ligar a tevê depois de umas duas horas no escuro e dar de cara com o Willian Bonner.

Assustador.

Mas eu dizia sobre o dia longo. Então, primeiro dia em Natal, o sol raiou e eu levantei da cama. Tomei banho, dei uma esticada na rede e desci. Encontrei tudo vazio e o restaurante do hotel fechado. Ué, que porra é essa?, pensei.

Foi quando um faxineiro passou por mim e eu perguntei onde se tomava o café da manhã. Ele disse que era lá mesmo, mas que só a partir das seis horas. Perguntei, meio atordoado, que horas eram e ele me respondeu sorrindo: cinco e meia.

Quase que tiveram que dar um boot em mim pra eu conseguir sair do lugar.

Depois disso, fiz centenas de coisas, fui à praia, almocei, cocei o saco, andei, andei, andei na areia, bebi, me entediei e quando olhei no relógio ainda eram uma e meia da tarde.

O tempo não passa naquele canto do Brasil.

Enquanto isso, no Reino da Engorda

Toda vez que vou comer Baked Potato me lembro da piada do português que, caminhando pela rua, avista adiante um montinho de merda e já se lamenta, sabendo que vai pisar.

Eu sempre queimo a boca comendo aquela coisa.

E já que tô falando em gulodice (aquela batata não é refeição, é gula), confessei: matei um panetone INTEIRO, 500 gramas de prazer, melecado no requeijão, regado a leite gelado, em menos de 10 minutos. No confessionário mandaram eu rezar 200 abdominais e 40 minutos de polichinelo.

E me ofereceram um panfleto de spa.

Adoro a galera de Ramos

Pança de responsa

Ir ao Rio é ter que passar em Ramos pra fazer um churraco e se encharcar de cerveja. Dessa vez foram seis caixas de Skol. Bebi como gente grande, como há muito tempo não fazia.

Na foto, Tio Cacá exibe o que só muitos anos de cevada conseguem moldar. Se perguntar se é gravidez, "é sim, inclusive já nasceu até o bracinho, quer ver?".

Lá também se come coisas excêntricas, como o DOCE DE CABEÇA (tm Marcos RS):

Tem coragem?

Coisa da Tia Wilma.

Momentos em que se lamenta não ter carga na bateria da câmera

Uma placa pintada à mão avisava os transeuntes:

DELICIOSA
VACA
A TOLADA

Mas que beleza de vaca atolada, hein? Só faltou uma crase pra ficar completo. :P

Colabore você também



Nem me lembro onde foi que ouvir falar dessa teoria. Deve ter sido de um desses bebuns famosos, tipo o Zeca Pagodinho ou o Jaguar.

A Teoria de Segurança em Aeronaves (TSA, passei a chamar assim) diz que:

Se há pelo menos um bêbado a bordo, a aeronave não corre o risco de cair.

Não discuto os comos e porquês, apenas faço minha parte.

Alvará de soltura

Ele virou o papel e me mostrou o título com o dedo indicador, para que eu lesse. Eu já havia lido, mas fingi que não. Dizia:

ALVARÁ DE SOLTURA

Perguntei, forçando naturalidade:

- Saiu agora?
- Acabei de sair. Tô limpo.
- Parabéns.
- É isso aí. Paguei o que devia para a sociedade.
- ...
- Agora eu tô livre. Não devo mais nada pra ninguém, tá ligado?

Tenho uma péssima mania. Aliás, duas, que se complementam. Sou curioso e não sei ficar de boca fechada:

- Quanto tempo?
- Quatro anos e oito, mas puxei dois e tô saindo fora.
- ...
- ...
- ...

Não precisei perguntar.

- Cento e cinqüenta computadores e trinta aparelhos de fax. Faltavam cinco quadras pra eu entregar a mercadoria e meter a mão na bolada. Deu zica.
- Caramba...

Nesse ponto eu já procurava um jeito de me esquivar do papo. Tava com o iPod ligado e lia um livro, tinha duas chances de escapar.

- Quanto tempo falta pra chegar em Campinas?
- Não sei, acho que...
- Porque de lá eu vou pra Sorocaba e depois quero ver se pego o baile funk em Santos.
- Ainda hoje?
- É, o baile vai até as quatro, cinco da manhã.
- Que pique, hein?
- Dois anos em reclusão, gordinho. Tá ligado?
- É, não deve ser fácil. Seu filho da puta, gordinho é o caralho.

Mas só disse a primeira frase, claro.

- Mas desculpa aí te atrapalhar, continua aí seu livro.
- 'Magina.

Virei a página anterior pra recapturar o fio da meada mas não deu tempo nem de ler a primeira frase.

- Paguei minha dívida, tá ligado? Quanto tempo falta pra chegar em Campinas?
- Não sei não, acho que a gente chega lá entre nove e meia e dez horas.
- Dez horas pra chegar em Campinas?!
- Não, vamos chegar a Campinas às dez. Vinte e duas horas, entendeu?
- Ah, bom. Qual é seu nome?
- Marcos.
- Prazer, Sérgio. - e me estendeu a mão tatuada.
- Prazer.
- Mas continua aí sua leitura.
- Valeu.

Enquanto tentava achar onde tinha parado, já que o livro se fechou e o marca-páginas ficara na minha mão, meu vizinho de assento abria o papel e o lia pela, sei lá, vigésima terceira vez. Foi por isso que pude ler do que se tratava muito antes dele me mostrar. Aquele sujeito inquieto ao meu lado, abrindo e fechando um papel e olhando para todos os lados não podia ser normal. Dei uma pescoçada básica no papel com o timbre do Estado em suas mãos e percebi: era um sujeito que acabara de sair da cadeia.

A viagem prosseguiu sem mais interpelações. Pelo menos até a próxima parada.

- Chegamos?
- Não, é só uma parada.
- Cinco minutos? - a ansiedade corroendo ele ali na poltrona.
- Quinze.
- E quanto tempo falta pra chegar em Campinas?
- Sei lá.
- Valeu.

Nesse momento me peguei sendo preconceituoso. Mas entenda, perceba minha situação. Na mochila aos meus pés estavam, além do iPod na minha mão: PowerBook (que peguei na assistência antes de viajar; ele ressuscitou novamente, é a terceira vida!), câmera fotográfica digital e alguns CDs queridos, mais algumas roupas.

E aí, o que você faria? Desceria do ônibus deixando seus pertences ao lado de um cara que acabou de sair da cadeia, onde estava preso por furto? Ou sairia arrastando a mochila, mostrando claramente o tamanho do seu preconceito (e medo)?

Decidi ficar sentado. Dava pra segurar o xixi por mais duas horas, pensei, me esquecendo que logo ali atrás ficava o banheiro do ônibus.

Mas ele também devia querer experimentar a sensação devolvida de liberdade, e quando o ônibus já estava vazio, praticamente só eu e ele sentados, ele se levantou e saiu. Saí atrás, quase conseguindo escutar minha bexiga chorando.

(Anotação mental: não beber cerveja antes de viajar. E a partir de agora cumprir essa promessa.)

Na volta do banheiro, de onde liguei para meu filho, dei de cara com ele.

- Foda, mano. Tô tentando falar com uma tia que mora em Sorocaba mas na casa da véia não aceita ligação a cobrar. Falta que faz um celular.

O bolso pareceu mais pesado do que nunca. O celular ali dentro parecia pegar fogo com a indireta dele. Procurei disfarçar e sentei num banco, em frente ao ônibus estacionado, o que fez com que o telefone no meu bolso aumentasse o volume por sob o tecido. Cruzei as pernas tentando disfarçar mais ainda, enquanto escutava seu comentário de que no xadrez ele tinhas três celulares à disposição.

- Dentro da cela? Mas não é proibido? - perguntei fingindo não saber que se pode tudo.
- Poder não pode, tá ligado? Mas cê tá ligado... - e sorriu.
- Só.

Meteu a mão no bolso e sacou uma arma, não, puxou um maço de cigarros, pegou um e me estendeu, oferecendo. Neguei, agradeci e já ia me preparando pra escapar quando ele voltou a falar:

- Tá ligado aquele outro maluco que tava lá na rodoviária? Vacilão. Tinha saído do xadrez junto comigo, mas tava devendo em outra cidade.
- É? - não sabia o que dizer, só pensava no livro me esperando.

E me explicou que o cara que tava com ele tinha saído e confessou querer pegar um táxi. Contou que ele negou que estivese devendo, mas se mostrou apreensivo enquanto esperava o ônibus chegar. Ensaiou diversas vezes entrar no único táxi parado na rodoviária daquela cidade minúscula. Mas como estava sem dinheiro nenhum, teria que "convencer" o motorista a levá-lo dali de graça. E desistiu. Um erro fatal, pois em seguida chegou uma viatura da polícia e de alguma forma acabou descobrindo que ele "estava devendo" em outra cidade, e que portanto teria que retornar ao xadrez para averiguação.

Pensei em perguntar como é que um cara que ainda "tá devendo" consegue sair da penitenciária, mas a vontade de voltar ao livro era maior. Só que não conseguia uma brecha sequer, os assuntos emendavam-se uns aos outros sem intervalo.

- O baile funk é da hora, tá ligado?
- É, tô ligado, Já fui em alguns no Rio.
- Mas lá em Santos é que o bicho pega. Só mina sarada.

E descreveu como o baile santista era bom. Que lá as minas fumavam um baseado na cara dos polícia e eles não faziam nada.

- Os coxinha ficam tudo pagando de peito empinado mas não podem fazer nada, tá ligado?
- Só.
- E lá não tem mulher feia. Só gostosa, só mulher sarada. E o som é ducaralho, tá ligado?

Será que eu explico pra ele que a onda funk já acabou, pelo menos em São Paulo?, pensei. Mas não disse, só queria sair dali rápido.

- É gordinho, só tem mulherão. Tu precisa ver.
- Onde fica?
- Em Santos.
- Sei, você já tinha dito. Onde em Santos?
- Numa discoteca.
- Ah...
- Bom pra caralho.
- Bom, o papo tá legal mas vou entrar pra continuar lendo meu livro.
- Vai nessa, gordinho.

Entrei, sentei, coloquei os fones na orelha e não olhei mais de lado até o ônibus entrar em Campinas, hora depois.

- Aê, gordinho, como é mesmo seu nome?
- Marcos.
- É isso aí, Marcos. Se cuida aí, tá ligado?

E me cumprimentou, um tapa na palma da mão e depois um soco de mão fechada. O cumprimento da moda. Tá ligado?

- Valeu aí, gordinho, Se cuida aí, valeu?
- Você também.
- Boa sorte.

E se foi.

Desejei boa sorte de volta, mas uma coisa ficou presa na garganta. Gordinho é a puta que lhe pariu.

Plantação

Isso foi em Brotas, SP
Mas não vi pé de couve nem de alface, só essa planta esquisita aí atrás da placa.

12.1.05

Achei um cybercafe, mas DEU PAU NO BLOGGER

Tinha escrito um texto enorme e o Blogger enfiou ele no (meu) rabo quando cliquei em publish. w:/

Estou em Pipa, Rio Grande do Norte. Achei o lugar para onde quero me mudar.

Zilhões de coisas pra contar, quilos e quilos de fotos maravilhosas, mas tá tudo no laptop. Quando achar um lugar que eu possa conectar o bicho ao resto do mundo, faço novo contato.

Galera de Recife, acho que não conseguirei passar aí. :(

Guid, achei o lugar onde colocaríamos aqueles bonecos de velhinhos, não tivesse sido aquela ligação.

3.1.05

Diário de bordo - 3

Querido diário,
esse é o dia 4 do CCP (Consumo Compulsório de Pernil). Com calma e persistência a gente vence mais essa.

Ah, as fotos. Eu preciso dar um jeito de publicá-las.

Minha estada no Rio se encerra daqui a pouco. Ainda não sei se conseguirei chegar ao nordeste, mas eu (tento) mantenho contato. Torcida.

Mudando de assunto, viciei num som do Muse: Apocalypse Please.

2.1.05

Me sinto um dragão, daqueles que cospem fogo

Pão, carne, bolinho, macarrão, salgadinho, refrigerante, cerveja... Até o ar que respiro me dá azia.

Acho que tá na hora de dar uma bica em tudo, renunciar à essa vida mundana e desregrada, e ir, sei lá, virar macrobiótico.

Passar o resto da vida comendo alpiste.

A propósito, alguém sabe me dizer se alpiste dá azia?

Diário de bordo - 2

Pernil, lombo, chester, lentilha, arroz e salada. Acho que em mais duas ou três refeições a gente mata a ceia de ano novo.

Várias fotos, várias, mas publicação só quando voltar a São Paulo.

Me perdi e nem sei o que é que ia escrever.

Ah, tem três histórias cabeludas pra contar, relembradas ontem num churrasco com os amigos, vividas em visita aos morros da Grota e Adeus. Mas agora eu tô de barriga cheia, uma pregui