Filosofia de trabalho
No livro do Mario Prata, Diário de um Magro, ele comenta sobre a culpa de "não trabalhar". Aparentemente ele coçaria o saco o dia todo, e só trabalha mesmo umas duas horas por dia. Aparentemente.
Na verdade ele percebe que trabalha mesmo 24 horas por dia, que enquanto está jogando paciência no computador, está criando a maior parte do seu trabalho. Que enquanto coça o saco e fuma unzinho, cria.
Isso é o que chamamos de "ócio produtivo", um assunto que eu acho deveras interessante.
O problema é praticar o ócio produtivo num ambiente corporativo - numa empresa, a palavra ócio é entendida com uma forte carga pejorativa.
Mesmo assim eu batalho na função de não deixar essa importante filosofia de trabalho morrer. E para isso existem
A ferramenta mais conhecida para a prática do ócio produtivo em empresas é o Alt-Tab (ou Command-Tab no Mac OS, meu caso). A Apple facilitou muito as coisas no último sistema operacional, implantando o Exposé - basta uma única tecla e todas as janelas de orkuts, blogs e fotologs da vida saem correndo pra se esconder nos cantos da sua tela. Um luxo.
Mas essa ferramenta tem seu lado ruim. Se você só pratica o Alt-Tab, em pouco tempo vão perceber que você não produz o suficiente e lhe darão um pé na bunda. Aí é que entra meu método preferido: o trabalho em lote (batch work, se você pretende palestrar sobre isso - platéia de palestras adora um termo em inglês, mesmo que seja errado).
O trabalho em lote funciona da seguinte forma: você dedica o equivalente a um dia da semana para produzir em grande escala (não precisa ser necessariamente um dia contínuo). Aí vai soltando o resultado em doses diárias, entre uma blogada e outra, por exemplo. O pulo do gato aqui é saber dosar corretamente a quantidade de trabalho a ser liberada por vez versus a produtividade que esperam de você. Fechou essa conta, pronto.
Se você trabalha numa grande empresa, fica mais fácil. Existe uma equação simples para explicar isso: quanto maior o número de gravatas circulando na sua empresa, mais burocraticamente o trabalho fluirá. Comprovado. Aí aplicar o conceito de ócio produtivo num ambiente assim se torna tão fácil quanto passar o dia tomando cafezinho na máquina de espresso, batendo papo no terraço ou "tomando decisões estratégicas".
Tomar decisões estratégicas então merece um tópico à parte. "Começar um estudo" para avaliação de algum novo projeto pode se transformar naquelas tão esperadas férias.
Existem rumores de gente que leva essa filosofia de trabalho tão a sério que nem aparece nos outros quatro dias da semana. Eu sei que isso existe de fato, mas não vi, não sei e nem quero saber quem foi. Não me envolva.
Claro que o conceito de ócio produtivo não se aplica se você tiver rotina e prazos a cumprir, ou seja, fizer parte da linha de produção e ficar na parte da frente do tabuleiro. Se você não for no mínimo uma torre ou um bispo, sorry. ;-P
O que não te impede de ir treinando a mente - e o corpo - para o dia em que a oportunidade pintar.
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