29.4.03

Outro dia se comentava numa lista de discussão sobre como é se sentir analfa estando num país estranho, onde se fala qualquer coisa, menos seu idioma. Já me senti assim em Buenos Aires. É comum os brasileiros acharem que o espanhol/castelhano é fácil, por "ser parecido". Rá.

Na imigração foi mole, brasileiro nem precisa de passaporte pra entrar na Argentina - basta o RG. E o cara fez uma única pergunta. Tirei de letra (-Yes.) e segui em frente.

Como havíamos perdido o vôo da noite anterior, teríamos que nos virar pra chegarmos ao hotel por conta própria. -Um táxi - pensei. Pois foi chegar ao balcão de táxi pro desespero bater. Atendentes de empresas concorrentes disputavam os clientes a gritos, soltando centenas de palavras imcompreensíveis por minuto. Como um dos nossos arranhava o espanhol, endendemos apenas o suficiente para saber que estavamos no rumo errado: o preço. Algo em torno de 100 reais, em valores atuais, para a corrida.

Nesse momento eu tomei uma das decisões mais acertadas da minha vida. Fui para o bar do aeroporto e tomei algumas cervejas. Aproveitei a ocasião para aquecer meu portunhol de quinta com o garçom (argentino é mesmo marrento, concluí, logo aos 5 minutos de conversa).

Meia hora mais tarde reconhecemos o logotipo da nossa agência de turismo, colado numa daquelas plaquinhas que o pessoal segura no desembarque. Expliquei que tinhamos perdido o vôo na noite anterior etc e se não poderiam nos tirar dali. A moça pegou o rádio, confirmou nossos nomes e disse que ok.

Passei o final de semana perdido no idioma, tendo que apelar pro inglês em 70% do tempo. Quer dizer, eu começava tentando o espanhol, passava para o portunhol e acabava no inglês. As situações mais engraçadas eram nos restaurantes, quando eu pedia para que identificassem o que era aquilo no meu prato. Metade eu consegui identificar. Antes não tivesse.

E argentino ainda é filho da puta, pois fingem que não entendem absolutamente nada de português, mesmo os funcionários do hotel. Até eu descobrir que banheiro era "casa de baño", já tinha quase me mijado. É claro que se você ler "casa de baño" em alguma porta, fica fácil associar. Mas ter que adivinhar... E dá-lhe mico: "-Banheiro, ba-nhe-i-ro, bathroom, xixi, sshhhii, urina." Fora a mímica patética. E o balconista lá, sorrizinho irônico no canto da boca, fingindo que não estava entendendo picas. FILHO DA PUTA!

Dois dias depois, um quilo e meio a mais e muito álcool no sangue, embarquei de volta para São Paulo.

Grande cidade é Buenos Aires. Espero voltar lá.