20.1.03

Certo dia, logo em suas primeiras semanas de vida, incomodada pelas cólicas, Laurinha não parava de chorar. Mesmo a virando de bruços nos braços, posição que sempre a acalmava, o choro persistia. O pai resolveu então apelar para uma das únicas coisas que o acalmavam: a música. Se funcionava com ele, funcionaria com a filha, pensou - mais por desespero do que por razão; vê se tem lógica acabar com a dor ouvindo música. Mas enfim.

Aproveitando o CD dos Secos & Molhados que estava no aparelho, ele colocou Rosa de Hiroshima para tocar. O choro parou, aqueles olhinhos perdidos percorreram o ambiente, como que se procurassem de onde vinha aquela coisa estranha que chamamos de música.

Algumas vezes depois o pai colocou aquela canção para Laura ouvir, sempre com a certeza de que ela gostava daquilo.

Os meses foram passando e o CD ficou esquecido junto aos outros. Até que certo dia, muitos meses depois, o pai de Laura lembrou e colocou a música novamente para ela ouvir.

Laura então reagiu de maneira surpreendente. Gritava, agitava os braços e depois parava para olhar fixamente o aparelho e o pai. E novamente agitava os braços, balbuciava alguma coisa, olhava para o aparelho e olhava para o pai, como se dissesse: "Ei, papai, eu conheço essa música! É aquela que eu gosto!".

Seu pai então derramou duas lágrimas e ganhou a semana.

Laura, eu te amo, filha.