7.1.03

Matando baratas

Ontem a noite fui acordado pelo grito estridente da minha cunhada na cozinha. Levantei assustado do sofá, dei uma pausa no filme e fui correndo ver o que acontecera.

- Aaii! Uma barata! Uma baratona!

Entrei na cozinha esperando encontrar algo do tamanho de um poodle, pela descrição que ela me deu antes de correr pra sala e se "esconder" atrás das cadeiras da mesa de jantar. Minha namorada, que me acompanhava no filme, também acordou e acompanhou tudo.

Todo mundo sabe que uma das três funções do macho humano é matar baratas, e eu não podia me negar a cumprí-la. Não ali, na frente da minha namorada.

Olhei para a barata sobre o balcão, lançando meu olhar enfurecido até que ela se escondesse. Aliviado, dei a notícia tranquilizadora:

- Ela já foi embora.

As duas, cunhada e namorada, foram então conferir se a barata tinha mesmo sumido. Pelos gritos que se sucederam, descobri que ela tinha voltado. Levantei então com o chinelo na mão, decidido a encarar de vez o problema.

- Lá embaixo da cesta! Mexe que ela sai.

Acho errado mexer com quem está quieto, mas não era hora de explicar meu raciocínio. Dei um tapa no balcão e o monstro reapareceu, mexendo suas antenas como se me desafiasse. Aproveitei os dois segundos de coragem que me surgiram e dei uma chinelada nela. Aqui abro um parênteses. Uma chinelada num momento como esse tem que ser extremamente técnica, como só um macho legítimo da minha espécie sabe dar. Não pode ser de cima pra baixo, pois assim pode-se esmagar a barata e vai acabar sobrando pra você limpar o creme. Não pode bater na sua própria direção, pois corre o risco dela cair na sua barriga e você acabar dando a impressão que tem medo de barata, devido a alguma reação não planejada. Tem que ser um "tapa" que faça com que ela vá para uma área onde possa ser finalizado o combate, como o piso da cozinha. Esse tapa precisa também fazer com que a barata já caia meio tonta, pois senão ela vai acabar fugindo e se escondendo novamente, o que vai apenas adiar a batalha. Enfim, tem que ser algo muito técnico e pensado. Fecha parênteses.

Com a baratona lá no chão, meio atordoada, deixei o chinelo cair sobre ela duas vezes (lembre-se de não esmagar a criatura, sob pena de ter que limpar depois) até que ela ficasse sem condições de reagir. Ainda sob efeito da adrenalina, peguei quatro pedaços de papel-toalha, dobrei bem, recolhi o que sobrou do chão e joguei no lixo.

Voltei pra sala com um aspecto vitorioso, porém sem demonstrar muita euforia, afinal aquilo ali era apenas uma das três funções triviais e fundamentais do macho na Terra.

As outras duas? Ora, todos sabem: trocar pneus e lâmpadas. Se bem que essa última vêm sendo ameaçada por mulheres sem noção que insistem em querer fazer o trabalho por si mesmas, mas isso já é uma outra história.

Deitei novamente no sofá, dei "play" no filme e voltei a dormir.